segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Olhos de um cinza graftee.

Seus olhos eram cinzentos, de um cinza grafite, eu bem me lembro.
Eram doces em sua tristeza, esperando uma resposta da qual nem a vida esteve pronta para lhe dar.
Pude alinhar meus olhos aos dela na praia, delante o mar.
Num dia primeiro, me lembro. Lembro de tê-la visto e pensar que realmente o primeiro dia de um mês possa ser uma oportunidade de renovação.
Mais ainda que uma renovação, ela foi uma transformação na minha vida.
Sentei-me ao seu lado, perguntando o que ela tanto procurava no vai e vem das ondas.
"Muito simples."- ela me disse.
"Procuro o segredo."
Obviamente, questionei de qual segredo ela se tratava.
"O segredo da vida. " - ela olhou-me então como se fosse óbvio o que acabara de dizer.
Então seu olhar veio a mim como uma resposta a todos os meus questionamentos internos, e pude entender o tal segredo que estava a procurar. Ela era uma daquelas pessoas santas que não se deixam iludir pelos valores materiais. Procurava uma razão para viver entre os mortais imperfeitos, com quem seu caráter casto não a permitia moralmente conviver. 
Permaneci ao seu lado, compartilhando sua busca.
E assim o fiz durante todas as manhãs em que voltou para a praia.
Trinta dias contínuos. Nenhuma palavra. Apenas o som da água batendo nas pedras.
No trigésimo primeiro dia, ousei perguntar-lhe:
"Encontrou o segredo?"
"Não" - ela disse - " descobri que certos segredos não precisam ser desvendados."
" E agora, o que fazer?" - estive incrédulo com sua súbita desistência pela busca.
" Com essa jornada, descobri que a felicidade não está desvendar o segredo da vida. Certas vezes, é preciso apenas... olhar para o lado." - e então, olhou pra mim.
"Poderei eu dar-te felicidade?"
"Você é, naturalmente, minha felicidade. Fez-se fiel a mim, jamais duvidou da minha busca, ou mesmo da minha sanidade. Você é o que estive procurando. "


.. Anos depois, ainda me recordo daquela manhã na praia.
E certamente devo lembrá-la para sempre, pois foi neste dia em que realmente nasci.
Diriam outros que nosso relacionamento estaria fadado ao fracasso, pois sequer nos conhecíamos, por jamais termos dialogado. Mais com a minha anja dos olhos cinzentos, aprendi que o amor constrói-se nos alicerces do silêncio da  compreensão.  



Maria Luiza Girão Ferreira